Micro-floresta ‘nasce’ no estaleiro
da Lisnave para ajudar a fazer frente às alterações climáticas
O fotógrafo Vitor Gordo desafia, a Lisnave aceita, a ‘Ilha da
Biodiversidade’ nasce. Foram necessários cerca de dezasseis meses até estarem
reunidos todos os “ingredientes” para criar uma micro-floresta, com a primeira
a surgir no estaleiro naval, situado na Mitrena, com o objectivo de ajudar a
fazer frente às alterações climáticas.
Através do método concebido pelo botânico japonês Miyawaki, foi
plantada na última quinta-feira, por cerca de 30 pessoas, uma centena e meia de
árvores, de 23 espécies autóctones, numa área com 50 metros quadrados, em
formato circular, dando-se assim o primeiro passo rumo a solução que “pode
ajudar a melhorar o mundo”.
“Comecei a projectar uma imagem do estaleiro para daqui a 20
anos, onde será possível ver verde, com todos os benefícios que isso trará,
como a retenção de carbono no solo e a capacidade de reter as micropartículas
que existem no ar, e assim purificá-lo mais, e foi essa a ideia que
apresentei”, explica Vitor Gordo a “O Setubalense”.
Através do método concebido pelo botânico japonês Miyawaki, foi plantada na última quinta-feira, por cerca de 30 pessoas, uma centena e meia de árvores, de 23 espécies autóctones, numa área com 50 metros quadrados, em formato circular, dando-se assim o primeiro passo rumo a solução que “pode ajudar a melhorar o mundo”.
Para tal, recorreu-se a “árvores e arbustos de vários estratos, encomendados a um viveiro de Montemor-o-Novo, uma vez que a ideia do método Miyawaki é plantar em alta densidade espécies nativas, autóctones, porque estão adaptadas ao clima, têm menos manutenção e mais probabilidade de sobreviver”.
“Das 150 árvores, 10% estão no extrato mais alto. Temos o
pinheiro-bravo, que atinge 20 a 25 metros de altura, temos o freixo e o ‘Celtis
Australis’, que é o iodão-bastardo. Nos outros extratos contamos com o
sobreiro, a azinheira, o loureiro, a murta e o alecrim, ou seja, são espécies
que encontramos nas florestas portuguesas”, sublinha.
Além das diferentes espécies, a ‘Ilha de Biodiversidade’ é também composta por casca de eucalipto, “a chamada estilha”, entregue pela The Navigator Company, e por “mulch”, que é “a manta morta que cobre o solo e mantém a humidade”, cedida pela NAM Mushroom, sediada em Marvila.
“Esta empresa produz cogumelos através de borras de café.
Disponibilizaram-nos a manta morta, que é uma camada de palha feita com o que
sobra depois de os cogumelos serem apanhados. É excelente para a agricultura
porque durante os primeiros tempos precisamos que o solo esteja sempre húmido e
que existam microorganismos que forneçam os nutrientes para as plantas
crescerem”, frisa Vitor Gordo.
A par das duas referidas empresas, foi também estabelecida uma
parceria com a Agriloja de Setúbal, que “ofereceu os aspersores, as mangueiras
e todas as ligações necessárias para os primeiros dois a três anos de rega”.
Ao imitar-se a natureza, acrescenta o fotógrafo, “obtém-se resultados dez vezes mais rápidos do que se isso acontecesse naturalmente numa floresta”. “A ilha tem um
formato circular e há um caminho pelo meio e à volta. A manutenção será mensal e será só à base da retirada das ervas que vão crescer junto às árvores, mas o segredo para levar esta ilha ao sucesso passa também pela não manutenção”, assegura.
Isto tendo em conta que “se se for à floresta não anda lá o jardineiro a cortar ramas”. “É intervir o menos possível. As coisas que têm de cair caem, as que têm de ficar no solo ficam e decompõem-se. É um ciclo de vida e morte”.
Assim, a água “será ‘desligada’ ao fim de dois a três anos
porque nessa altura as plantas estarão maiores, existe mais sombra no solo e
não será necessária rega”.
Lisnave aprova ideia
para consciencializar a própria comunidade
Fotógrafo de profissão, Vitor Gordo realiza trabalhos “com o
drone” na Lisnave. Além disso, diz-se apaixonado por “árvores e florestas”,
pelo que decidiu juntar ‘o útil ao agradável’ quando percebeu, “ao ver o
estaleiro de cima”, que este “não tem muitas áreas com árvores ou vegetação”.
“Apresentei a ideia à Lisnave e eles decidiram aceitar fazer
este primeiro projecto nesta altura do ano, até porque [de 21 a 30 de Novembro]
é a Semana da Floresta Autóctone. É uma sensação incrível, de conseguir colocar
em prática uma coisa que é uma paixão”.
Por parte da Lisnave, Cláudia Spranger, responsável pelo sector de ambiente, conta que o estaleiro naval “gostou da ideia, que é gira, por ter muito a ver com a consciencialização da própria comunidade”.
“É um gesto simbólico, também para chamar à atenção para as
alterações climáticas e para os pequenos passos que se podem dar no sentido da
sustentabilidade”, salientou. Para o futuro, Vitor Gordo diz que a ideia passa
por “replicar a Ilha da Biodiversidade por outros espaços, como, por exemplo,
em escolas, hospitais ou parques de estacionamento”.
“É possível fazer estas florestas em espaços diversos e a
vantagem é que envolve a comunidade. As pessoas são capacitadas a fazer estas
florestas no seu bairro ou local de trabalho. Estamos a pensar contactar a
Câmara de Setúbal e vamos também apresentar o projecto a 4 de Dezembro no
Exodus Aveiro Fest. O projecto tem todas as condições para se expandir pelo
País”, adianta, a concluir.
Por Maria Carolina
Coelho 21/11/2022
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